quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Eu também sou vidente!!

Lendo o Estado de São Paulo de hoje, descobri que também sou vidente. Logo eu, aqui, que tanto destrato estes seres encantados, deve ser o que as pessoas chamam de ironia do destino. Uma daquelas do tipo em que a pessoa passa a vida dizendo que despreza pessoas do tipo x e no fim se apaixona pela pessoa do tipo mais x que ela já encontrou... Não é ótimo? Pois a matéria é uma reprodução de uma matéria que saiu no New York Times sobre o boom da procura de executivos do mercado financeiro por.... videntes! Mas não foi sobre isto minhas duas últimas postagens??? Sou ou não sou vidente?

Bom, não precisa ser o gênio da lâmpada para somar 2 + 2 e ver que o resultado nem sempre é 4! Explico. Quando as pessoas procuram videntes? Quando estão em crise... O que anda acontecendo no mundo das finanças mundiais? Talvez a maior crise desde os anos 30. Logo, eu que acompanho o mercado e estou falando neste blog de crenças absurdas, aproveito o momento para falar exatamente sobre isto. Isto não têm nada de vidência, têm a ver com percepção da realidade em volta.

A matéria fala de uma vidente "séria", que atende sempre de taileur Channel (ela deve ser o feminino dos galinhos, que defini noutro post. Vou chamar o feminino de galinho de Channelete!). Pois bem, esta Channelete em particular cobra US$400 por consulta, o que significa que dinheiro é importante para ela. Mas se ela sabe onde será bom aplicar dinheiro, e como o dinheiro importa para ela, porque ela mesma não aplica? Porque ela vende uma dica de futuro, que potencialmente vale milhões de dólares, por meros 400 dólares? Percebem que a matemática não bate? Alguém pode dizer que ela faz isto para ajudar as pessoas. Mas se ela quer realmente ajudar as pessoas, ela deveria ganhar milhões ela mesma, prevendo o futuro, e ajudar milhões de pobres que não têm o que comer. Ou seja, não bate mesmo. É pior ainda. Assim como existe uma boa vidente em Nova York, não têm porque não ter uma boa em Paris, outra em Londres, outra em São Paulo etc. Como o futuro é só um, todos iriam para o mesmo investimento, o que significa que o lucro final seria....... zero! Porque? É que nem corrida de cavalo. Paga mais quem recebe menos aposta. O favorito paga sempre quase nada...

Se você soubesse que a pessoa que gerencia os seus investimentos consulta uma vidente para aplicar seus recursos, você deixaria seu dinheiro nas mãos desta pessoa?

terça-feira, 23 de setembro de 2008

...I want have control, I want a perfect body, I want a perfect soul...



O título do texto de hoje é um pedaço da música Creep, do Radiohead, um grupo que eu adoro e talvez um dos mais criativos do mundo em atividade no momento. A frase acima fala em ter controle, em ter um corpo perfeito etc, mas que na verdade ele é um creep, um ser diferente, que assusta os outros. Eu queria falar sobre isto, sobre controle, pois eu acho que toda vez que alguém consulta uma cartomante, um astrólogo, um numerólogo etc, este alguém está exatamente atrás disso: Controle, no caso sobre acontecimentos futuros.

O que você faria se tivesse controle sobre tudo? Ficaria rico? Teria um tórrido caso de amor com quem você mais deseja? Veja, não é o poder de um gênio que eu estou falando, é o poder de você controlar o desejo das pessoas e a evolução de sistemas, não de criar alguma coisa do nada. Não sei quanto a você, mas a sensação que eu tenho é que eu primeiro manipularia o sistema para ganhar uma bolada no mercado e nunca mais precisar me preocupar com dinheiro. Simultaneamente, porque ninguém é de ferro, eu direcionaria o afeto da pessoa que gosto para ela viver comigo o lindo caso de amor que todos queremos, mas nem sempre temos. Provavelmente depois disto tudo, eu entraria em um tédio profundo e me mataria!!! :) Ok, brincadeiras a parte, eu quero dizer que a graça da vida está exatamente em não termos controle, está no inesperado, está em perder o dinheiro hoje e recuperar amanhã. Está em ouvir da pessoa que você gosta que embora ontem ela achava que não gostava de você, hoje ela gosta. E que amanhã ninguém sabe! Mas quando consultamos uma cartomante, por exemplo, nós queremos exatamente o contrário. Queremos alguém que nos diga que vai dar tudo certo, que a situação financeira vai se resolver. E que logo logo sua vida amorosa será sinônimo de plenitude na terra! E eles dizem isto mesmo, claro que com alertas no meio. E eles dizem isto porque é o que queremos ouvir. Mais, é o que precisamos, necessitamos até, ouvir naquele momento. Você já viu alguém que acabou de fechar um negócio perfeito, está vivendo uma incrível estória de amor e está com saúde perfeita, ir a uma cartomante ou a um astrólogo ou a qualquer uma destas modalidades sedutoras das filosofias New Age? Eu nunca ouvi falar! E provavelmente você também não. Acho que nunca ouvimos falar disto porque quando nos encontramos nestes estados achamos que somos invencíveis, que tudo vai dar sempre certo, que somos praticamente imortais.... Isto mesmo, a morte parece algo longe e abstrato nestes momentos. Neste sentido, ter controle significa evitar a morte...

Não é a toa, assim, que exista um vasto mercado com todo o mambo jambo que você possa pensar. Eu sempre digo para os meus alunos. Se um dia vocês ficarem desempregados, não se preocupem, criem alguma corrente de auto-ajuda que envolva a palavra "Quântico" (da mecânica quântica, ainda vou falar mais sobre isto), a palavra "Big-Bang", a palavra "Cosmologia" etc, que vocês vão logo arranjar vários seguidores que não hesitarão em pagar algo para ouvir seus conselhos. Por exemplo, uma coisa do tipo: "A cosmologia do seu eu interior está intrinsicamente relacionada com as flutuações quânticas de suas emoções, dando saltos descontínuos, te levando de um estado de êxtase a um de frustração, através de pequenos big-bangs no desenvolvimento de sua personalidade". Uau!!! Eu gostei! Eu acho que vou seguir a mim mesma! O fato é que é fácil criar um monte de idéias desencontradas, que não significam muito, mas que quanto mais obscuras forem, mais seguidores encontrarão. A mentira quando propagada, acaba sempre virando verdade para algumas pessoas. E assim caminha a humanidade...

Chega, too much control for a day!

domingo, 14 de setembro de 2008

O Mambo Jambo financeiro

Nestes dias de tumulto nos mercados financeiros em todo o mundo, vale a pena lembrar que o Mambo Jambo intelectual é uma infecção generalizada, e o paciente (no caso, a razão) está em coma profundo, provavelmente no nível 3 da escala de Glascow. Para quem não sabe, Mambo Jambo é como me refiro a procedimentos estaparfúrdios que envolvem rituais do tipo: Se eu pensar fortemente nele(a), ele(a) vai me ligar dizendo que não vive sem mim! É um pensamento sedutor este, eu adoraria possuir este poder! Certamente faria com que certos dias de nossas vidas fossem mais suportáveis, embora eu desconfie que a vida se tornaria incrivelmente chata... O fato é que não temos este poder. E se pararmos para pensar, não é possível ter, pois assim como eu desejo x, provavelmente outra pessoa também deseje x. Como nós duas temos o poder de "comandar" o desejo de x, não é possível que só eu (ou a outra pessoa) tenha o que quero de x... Isto está ficando complicado! A moral é: Não temos poder sobre acontecimentos que não envolvam somente a nós mesmos. Mesmo quando envolvem só a gente já é dificil, envolvendo outras pessoas e/ou sistemas o controle vai a zero...

Porque estou falando isto tudo? Porque é exatamente assim que funciona o mercado financeiro. Quando compro uma moeda, uma ação etc, espero que esta moeda ou ação tenha um valor mais alto no futuro. O problema é que existem outras pessoas apostando que elas terão um valor mais baixo... Se o valor vai ser mais alto ou não, após, digamos, um ano, ninguém realmente sabe. Porque seu valor vai depender de eventos futuros totalmente fora de nosso controle. Para saber com exatidão, teríamos que prever o futuro. Como não prevemos.... Até aí, tudo bem. O problema é quando abrimos jornais e assistimos programas especializados na televisão. Em geral, eu leio diaramente três jornais: O Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo e o Valor Econômico. De quebra, ainda assisto ao resumo dos mercados financeiros no mundo no canal da Bloomberg, a noite. E existe algo muito, mas muito engraçado em todos eles: Os oráculos, segundo os galinhos. Galinho é um rapaz entre 25 e 35 anos, muitas vezes com goma no cabelo, com algum MBA nos Estados Unidos, as vezes com um doutorado em economia nas costas, que nos diz como estará o dolar e o índice bovespa no futuro, em geral no fim do ano. Eu descobri uma coisa maravilhosa com eles: Que podemos errar a vontade, falar o que bem quisermos sobre o futuro com um ar de seriedade e, na semana seguinte, falar tudo ao contrário, como se estivéssemos falando isto desde criancinhas, sem nenhuma retratação! (Na verdade, já me relacionei com uma ou outra pessoa que agem da mesma forma, com uma naturalidade espantosa, o que me faz pensar que... bom, deixa para lá). Exemplos: No início do ano, todos eles falavam da bolsa em 75000 pontos no fim deste ano (está em 51000 agora). Quanto a bolsa começou a subir mais, lá por abril/maio, começaram a dar as mães como garantias que o índice ia a 82000. Nesta última semana, estavam todos falando em algo entre 55000 e 60000 pontos no fim do ano. Assim é fácil... Eu também quero ganhar dinheiro como eles ganham, dando as suas estupendas assesorias financeiras, usando como único parâmetro o chutômetro.

O problema destas previsões todas é que elas são passadas para o público como algo concreto e certo. Se alguem têm interesse, sugiro uma dissertação de mestrado onde é feito um levantamento histórico das previsões do início do ano com o que realmente aconteceu no fim do ano. O resultado será o mesmo do levantamento das previsões dos astrólogos com o que de fato aconteceu durante o ano. Neste sentido, os galinhos são absolutamente iguais aos astrólogos, numerólogos e vários outros ólogos que andam por aí, ganhando dinheiro em cima da necessidade de crença dos outros. A diferença é que os galinhos estão todos travestidos de seriadade, com seus ternos Armani. No final, a picaretagem é a mesma. Eles se acham.... Ok, eu também me acho! (Em minha defesa, se é que preciso ou quero uma, eu posso dizer que todo mundo, de um jeito ou outro, se acha. Só que alguns assumem o seu "achismo", outros se camuflam num manto de modéstia...) O fato é que qualquer pessoa sensata diria, no início do ano, que este não era um ano para a bolsa. Assim mesmo, este pessoal continuou falando em valorizações expressivas durante o ano. Má fé ou auto-engano? Ambos. Em geral, como nas grandes paixões, começamos enganando a nós mesmos e acabamos enganando o outro...

Este post foi só uma parada. Próximo tema: Astrologia, parte II

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Eu visito estrelas... Ou porque a astrologia é um equívoco

Eu nasci em uma cidade que fica no meio do nada, no extremo do extremo oeste do Rio Grande do Sul, a 700 km de Porto Alegre. Existem certas vantagens de se crescer no meio do nada. Dá para tomar banho de rio, estar em outro país em 5 minutos (ok, a Argentina, mas vale!!), brincar na rua com todas as crianças da vizinhança etc. Mas existe uma outra vantagem na qual eu não pensava muito: As noites sem lua. Nestas noites, principalmente numa fazenda, o céu era tão limpo, tão cheio de estrelas, a mancha da via-láctea tão marcante, que deitada no chão olhando para cima parecia que eu seria engolida pela imensidão do céu. Além de poesias baratas, esta sensação desperta por dentro uma conexão entre nós e as estrelas. É mais do que natural pensar que de alguma maneira nosso destino está conectado ao que se passa no firmamento. Bem, realmente está, mas não como os astrólogos nos fazem crer.

Vejamos. Zodíaco é a região do firmamento que se estende por 8,5 graus a direita e a esquerda da eclítica. Eclítica é o caminho aparente do sol no céu: Basta marcar, todo amanhecer, onde em relação as estrelas o sol está nascendo (uma tarefa impossível para mim, que adoraria acordar duas da tarde todos os dias). Estes 8,5 graus têm a ver com a região do céu em volta da eclítica onde estão (ou estavam) os cinco planetas mais a lua, conhecidos pelos antigos. Muito bem, com isto eles definiram de maneira arbitrária 12 grupos de estrelas que eles chamaram de constelações. Cada constelação ocupando cerca de 30 graus da eclítica (que tem 360 graus). Inicialmente, estas 12 constelações representaram cada uma um mês com 30 dias. Só que com o tempo, esta divisão produz erros nos calendários, que foram aos poucos corrigidos. Por todos? Sim, menos os astrólogos...

Têm uma coisa complicada, chamada Precessão dos Equinócios (um movimento muito lento que desloca a intersecção do plano orbital da terra com o plano da eclítica, arghhhhh). Bom, esta precessão faz com que aconteça um deslocamento das constelações, de forma que hoje em dia os signos dos astrólogos não mais coincide com a posição das constelações na eclítica. Como? Bom, descobri que eu, que seria de sagitário, nasci mais provavelmente em outra constelação astronômica. Na verdade, todos os signos estão defasados! Im sorry, seu signo está errado! A coisa é ainda pior do que isto. Devido a este movimento do plano da terra em relação a eclítica, existem 13 e não 12 constelações no caminho do sol!!! Existe uma constelação extra atualmente, chamada constelação de Serpentário, localizada entre escorpião e sagitário. Ah ha, agora descobri porque eu nasci toda errada: Me criaram como sendo de sagitário, mas sou de serpentário, um signo que nem está no mapa astral ainda! É ainda muito pior. Se você incluir no zodíaco todos os planetas descobertos nos últimos 200 anos, o número de constelações sobe para 24... Mas é claro, para as pessoas das pseudociências complicações nunca são bem vindas... Eles não se preocupam com isto. Os astrólogos não querem saber se existem mais constelações. Eles odeiam que duvidem deles. Gravem isto: A ciência cresce na dúvida, as pseudociências crescem em certezas absolutas.

Tempos atrás, depois de uma aula em que falei sobre o assunto, fiquei pensando sobre os questionamentos dos alunos, que diziam que se a lua interferia com as marés, porque não iria interferir conosco? Pois bem, me dei ao trabalho de fazer a conta. Usei a mesma força que a lua usa para mudar as marés, e apliquei ela a nós, ao nascermos. Acontece que o médico e a enfermeira que estão presentes no nosso nascimento também fazem sobre nós o mesmo tipo de força que a lua faz nas máres: Força gravitacional. Meu resultado? A posição do médico e da enfermeira na hora do parto é mais importante para nós do que a posição da lua! O que me faz sugerir aos astrólogos: Incluam a posição dos dois na hora de fazer o mapa astral!!

Existem outros pontos. Por exemplo, a astrologia não dá conta do efeito da refração da luz das estrelas ao passar pela atmosfera. A refração faz com que a posição das constelações aparentes para nós não seja a posição verdadeira. E muitas outras. Mas é tarde e por hoje chega. Este post terá uma segunda parte...