domingo, 14 de setembro de 2008

O Mambo Jambo financeiro

Nestes dias de tumulto nos mercados financeiros em todo o mundo, vale a pena lembrar que o Mambo Jambo intelectual é uma infecção generalizada, e o paciente (no caso, a razão) está em coma profundo, provavelmente no nível 3 da escala de Glascow. Para quem não sabe, Mambo Jambo é como me refiro a procedimentos estaparfúrdios que envolvem rituais do tipo: Se eu pensar fortemente nele(a), ele(a) vai me ligar dizendo que não vive sem mim! É um pensamento sedutor este, eu adoraria possuir este poder! Certamente faria com que certos dias de nossas vidas fossem mais suportáveis, embora eu desconfie que a vida se tornaria incrivelmente chata... O fato é que não temos este poder. E se pararmos para pensar, não é possível ter, pois assim como eu desejo x, provavelmente outra pessoa também deseje x. Como nós duas temos o poder de "comandar" o desejo de x, não é possível que só eu (ou a outra pessoa) tenha o que quero de x... Isto está ficando complicado! A moral é: Não temos poder sobre acontecimentos que não envolvam somente a nós mesmos. Mesmo quando envolvem só a gente já é dificil, envolvendo outras pessoas e/ou sistemas o controle vai a zero...

Porque estou falando isto tudo? Porque é exatamente assim que funciona o mercado financeiro. Quando compro uma moeda, uma ação etc, espero que esta moeda ou ação tenha um valor mais alto no futuro. O problema é que existem outras pessoas apostando que elas terão um valor mais baixo... Se o valor vai ser mais alto ou não, após, digamos, um ano, ninguém realmente sabe. Porque seu valor vai depender de eventos futuros totalmente fora de nosso controle. Para saber com exatidão, teríamos que prever o futuro. Como não prevemos.... Até aí, tudo bem. O problema é quando abrimos jornais e assistimos programas especializados na televisão. Em geral, eu leio diaramente três jornais: O Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo e o Valor Econômico. De quebra, ainda assisto ao resumo dos mercados financeiros no mundo no canal da Bloomberg, a noite. E existe algo muito, mas muito engraçado em todos eles: Os oráculos, segundo os galinhos. Galinho é um rapaz entre 25 e 35 anos, muitas vezes com goma no cabelo, com algum MBA nos Estados Unidos, as vezes com um doutorado em economia nas costas, que nos diz como estará o dolar e o índice bovespa no futuro, em geral no fim do ano. Eu descobri uma coisa maravilhosa com eles: Que podemos errar a vontade, falar o que bem quisermos sobre o futuro com um ar de seriedade e, na semana seguinte, falar tudo ao contrário, como se estivéssemos falando isto desde criancinhas, sem nenhuma retratação! (Na verdade, já me relacionei com uma ou outra pessoa que agem da mesma forma, com uma naturalidade espantosa, o que me faz pensar que... bom, deixa para lá). Exemplos: No início do ano, todos eles falavam da bolsa em 75000 pontos no fim deste ano (está em 51000 agora). Quanto a bolsa começou a subir mais, lá por abril/maio, começaram a dar as mães como garantias que o índice ia a 82000. Nesta última semana, estavam todos falando em algo entre 55000 e 60000 pontos no fim do ano. Assim é fácil... Eu também quero ganhar dinheiro como eles ganham, dando as suas estupendas assesorias financeiras, usando como único parâmetro o chutômetro.

O problema destas previsões todas é que elas são passadas para o público como algo concreto e certo. Se alguem têm interesse, sugiro uma dissertação de mestrado onde é feito um levantamento histórico das previsões do início do ano com o que realmente aconteceu no fim do ano. O resultado será o mesmo do levantamento das previsões dos astrólogos com o que de fato aconteceu durante o ano. Neste sentido, os galinhos são absolutamente iguais aos astrólogos, numerólogos e vários outros ólogos que andam por aí, ganhando dinheiro em cima da necessidade de crença dos outros. A diferença é que os galinhos estão todos travestidos de seriadade, com seus ternos Armani. No final, a picaretagem é a mesma. Eles se acham.... Ok, eu também me acho! (Em minha defesa, se é que preciso ou quero uma, eu posso dizer que todo mundo, de um jeito ou outro, se acha. Só que alguns assumem o seu "achismo", outros se camuflam num manto de modéstia...) O fato é que qualquer pessoa sensata diria, no início do ano, que este não era um ano para a bolsa. Assim mesmo, este pessoal continuou falando em valorizações expressivas durante o ano. Má fé ou auto-engano? Ambos. Em geral, como nas grandes paixões, começamos enganando a nós mesmos e acabamos enganando o outro...

Este post foi só uma parada. Próximo tema: Astrologia, parte II

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
South American Way disse...

incrivel perceber este paralelismo entre o mercado financeiro e o mercado das emoções e as altas e baixas de ambos.....beijocas
dani

Luara Calvi Anic disse...

Adorei!
beijos!