domingo, 30 de novembro de 2008

Luz em São Paulo

Quando: 22/03/2009
Onde: Chácara do Jockey Club
Porque: Radiohead

Precisa dizer mais?

Sim, água faz bem...

Quando eu era criança eu queria fazer medicina. Muitas crianças querem. Mas eu fui além. Eu era uma criança tão sem noção do mundo, tão ingênua, que por volta dos 11 ou 12 anos, depois de "estudar" por conta própria alguns conceitos básicos sobre doenças, procedimentos médicos etc, eu fui até o hospital da pequena cidade em que eu morava para... pedir um estágio!! Nem eu acredito que fiz isto. O fato é que eu acabei, na adolescência, descobrindo a física e foi uma paixão fulminante, que dura até hoje. Estas escolhas devem dizer muito sobre mim: Médicos e físicos são as duas classes com o maior número de pessoas arrogantes que eu conheço. É um páreo duro, pois enquanto os médicos têm, em tese, o poder de vida e de morte, os físicos têm o poder do conhecimento do funcionamento do universo... Quem dá mais? Uma mesa de bar com um médico, um físico e um argentino deve ser muito engraçada! Mas isto não justifica o fato de o conselho federal de medicina ter reconhecido a homeopatia como prática médica em uma resolução de 1980, conforme acabei de ler na página do CRM de São Paulo.

Eu imagino que exista uma disciplina de química básica nas escolas de medicina. E também imagino que nesta disciplina os futuros médicos devem aprender que existe uma coisa chamada número de Avogadro: Existem cerca de 602000000000000000000000 átomos/moléculas de uma dada substância em cada mol de matéria. É um número absolutamente enorme, o que implica, a primeira vista, que é fácil encontrar uma molécula de uma dada substância mesmo quando a misturamos com, por exemplo, água. Então digamos que diluímos esta dada substância em água, algo como para cada litro da substância, colocamos 10 litros de água. Obviamente, a chance de encontrar uma molécula da substância inicial após a diluição será de 10%. Se repetirmos este processo mais uma vez, a probabilidade cai para 1%. E se repetirmos por 30 vezes? A probabilidade fica 0,0000000000000000000000000001% !!!! Você acha que é pequena, inimaginável? É mais fácil você ganhar na mega-sena todas as semanas da sua vida, jogando apenas 6 números por semana, do que achar uma molécula da substância inicial depois de 30 diluições seguidas! Agora, pasmem: Na homeopatia, a diluição de 30 vezes é quase um desvio, o normal é diluir 100 ou 200 vezes... Ou seja, os remédios homeopatas são água pura! E o CFM endossa isto, inclusive com provas para o título de especialista. Será que eles tem alguma questão sobre química básica nas provas? Me dá medo, realmente medo, pensar que o CFM assina embaixo deste mambo jambo sem pé nem cabeça.... Me faz pensar nas outras especialidades...


Mas algumas pessoas dizem: Eu só me trato com homeopatia e me curo na maior parte das vezes. Porque elas melhoram com água pura? Por duas razões. A primeira é que nós temos um sistema imunológico. A segunda é o efeito placebo. Nosso corpo é uma máquina maravilhosa, com o sistema imunológico sendo uma parte particularmente engenhosa. Eu sou louca, não bato bem mesmo, e digo isto porque toda a vez que eu tenho febre causada por algum tipo de infecção, eu fico maravilhada com o fato de eu estar tendo febre exatamente para ajudar a combater vírus e bactérias que estas causando esta mesma infecção. É algo absolutamente fantástico. O corpo sabe cuidar de si mesmo na maior parte das vezes. Não importa se você tomou água pensando se era remédio ou não... E, para isto, entra em cena também o efeito placebo. Exemplo de efeito placebo: Alguém dá grama para o sujeito fumar, dizendo que é maconha. E o sujeito viaja... Este efeito é bem conhecido na medicina (obviamente, menos para o CFM...) e em geral, para evitar que se venda gato por lebre, todo o remédio que você compra em uma farmácia passou por um teste chamado duplo-cego. Neste tipo de teste, são fornecidos para os pacientes as drogas que se quer testar e um placebo (farinha, água etc). No duplo-cego, nem o paciente sabe se está tomando um placebo ou não e nem a pessoa que está admininistrando a medicação. É um sistema particularmente eficaz para se evitar efeitos de sugestão, ou seja, de a pessoa desencadear efeitos bioquímicos no próprio corpo que mascarem os sintomas da doença e apresente melhora no seu estado clínico, simplismente porque alguém falou para ela que aquele medicamento em particular iria melhorar sua saúde. Que as pessoas são sugestionáveis a níveis incríveis é uma grande verdade. Vou falar disto num post futuro. O que definitivamente não é verdade é que água pura atua bioquimicamente no seu organismo.

Acontece que os homeopatas dizem que mesmo após a diluição a água conserva uma "memória" da substância original... Água com memória? Sim, eles dizem que as moléculas de água carregam, de alguma maneira, propriedades da substância original que acabam fazendo o efeito desejado no organismo... Qualquer semelhança com o caso do tenista que eu mencionei antes não é mera coincidência... Isto tem um nome: Se chama pensamento mágico. Minha sugestão ao CFM: Façam um simpósio para discutir o assunto com químicos de ponta, com físicos atômicos e moleculares, e deixem de ser motivo de piada... Eu incluí os físicos para ser coerente com a arrogância que falei no início do post, se bem que eles realmente são úteis as vezes! :)

Vou dormir! Próximo post?

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vicky? Cristina? Barcelona?

Uma pequena parada para um comentário completamente fora do assunto principal deste blog. Depois do filme, fiquei pensando:

Se a pessoa é romântica, quebra a cara
Se a pessoa é audaciosa, quebra a cara
Se a pessoa é recatada, quebra a cara
Se a pessoa é aventureira, quebra a cara
Se a pessoa é conformista, quebra a cara
Se a pessoa é inconformista, quebra a cara
Se a pessoa é amorosa, quebra a cara
Se a pessoa é desencanada, quebra a cara
Se a pessoa é espirituosa, quebra a cara
E vai... Poderia ter sido adicionada uma frase pelo narrador no fim do filme: E como sempre, continua todo mundo insatisfeito! :)

O comentário sobre homeopatia ainda não foi publicado por falta absoluta de tempo. Mas será. Breve neste espaço!

sábado, 8 de novembro de 2008

Só porque você pensou em mim ontem...

O mais comum é mentir para nós mesmos. Mentir para os outros é relativamente a exceção.

Nietzsche

Acho que já aconteceu com todo mundo. Você liga para alguém, amigo, amiga, pai, mãe, enrosco, seja lá quem for, e esta pessoa diz que acabou de pensar em você! Você logo pensa: Nossa, estou conectada a esta pessoa, nossas “almas” estão em sintonia/sincronia ou alguma outra “ia” (talvez manIA obsessiva compulsiva...) Ou você sonha com a pessoa, um sonho ruim, e no dia seguinte descobre que a pessoa morreu, sofreu um acidente etc. Ou você está falando com alguém e “descobre” a próxima frase que a pessoa vai falar. Estamos em comunicação mesmo quando não estamos fisicamente próximas a outras pessoas? Somos capazes de “receber”, de alguma maneira desconhecida, o pensamento de alguém? Em suma, existe algo como telepatia?

Vamos pensar assim. Digamos que você tenha um amigo, um daqueles que pensa mais de si do que realmente é, que diz: Ontem saí e peguei todas! Talvez ele até receba um telefonema na sua frente da “presa” da noite passada, mas será que foi assim mesmo? Será que ele é um exímio “pegador”? Muito provável, ele saiu várias vezes durante a semana, abordou umas 15 mulheres e teve um sucesso. É claro que, como ele se acha, ele vai falar para você só do 1 sucesso, não vai falar dos 14 fracassos, e vai passar a impressão de que com ele ninguém pode! Pois bem, em geral é exatamente isto o que fazemos quando dizemos para alguém: Você não acredita, acabei de pensar na pessoa X e ela me ligou! Ou ainda: Tive um pressentimento ruim sobre X e não é que ela tinha sofrido um acidente? O que eu acho? Que em todos estes casos, enganamos a nós mesmos. “Esquecemos” todas as vezes que pensamos em X e X não ligou ou aconteceu absolutamente nada com X. Então porque acontecem situações de sincronia que nos arrepiam?

É uma questão de probabilidade: Se você pensar um número suficiente de vezes em alguém, VAI acontecer de um dia, após um destes pensamentos, você receber alguma notícia deste alguém. Se você anotasse num papel todas as vezes que pensou em X e nada aconteceu e também todas as vezes que pensou em X e recebeu uma notícia desta mesma pessoa, e em seguida dividir um número pelo outro, fatalmente verá que é um número do tipo 0,01 ou menor... Só que nunca fazemos esta conta. Sempre queremos acreditar que temos uma conexão especial com o outro, algo que transcende o mundo físico, algo que nos faz especiais...E talvez a coisa que mais se queira na vida é ser especial, embora nem sempre lembramos que somos especiais para alguém: Somos todos especiais para nossos pais... Agora, se você não for especial para sua mãe ou para o seu pai, bom, eu sinto muito, mas como se dizia no sul, você está num mato sem cachorro! Boa sorte! Aliás, isto me inspira a fazer a seguinte conjectura: Quanto menos especial você se sentir para os seus pais, maiores são as chances de você procurar uma conexão cósmica onde você se sinta especial, maior a probabilidade de você sair procurando toda e qualquer pirotecnia sobrenatural...

Mas vamos supor que mensagens de pensamento são trocadas entre pessoas. Obviamente, estas mensagens podem ser trocadas independente da distância: Muitas vezes a pessoa pode estar do outro lado do mundo. Eu mesma, quando morava na Austrália, muitas vezes pensava bastante em uma pessoa especial na minha vida, que morava no Brasil, e, vejam vocês, quando chegava em casa tinha uma mensagem dela na secretária eletrônica! Só que para mandar uma mensagem por uma distância muito grande, você precisa de energia. Veja os celulares, por exemplo. A cada poucos quilômetros tem uma torre que capta os sinais emitidos por eles e permitem você falar a distâncias enormes. Não existem torres telepáticas por aí, então a comunicação deveria ser direta entre os dois cérebros. Só que a quantidade de energia para mandar uma informação qualquer a milhares de quilômetros de distância fritaria todos os neurônios do seu cérebro! Alguém pode dizer: Bom, você não precisa de energia para a comunicação entre dois cérebros. Ao que eu responderia: Então vamos parar de conversar, pois se você vai apelar para coisas que não são verificáveis, podemos falar qualquer coisa, tudo vale.... Percebem? Como diz Fernando Pessoa em um dos seus poemas maravilhosos, a metafísica é uma conseqüência de se estar mal disposto...

Próximo blog. Vamos falar sobre homeopatia?