quinta-feira, 30 de abril de 2009

Parece que milagres acontecem mesmo!


É, por mais incrível que pareça, meu blog foi indicado. E eu aqui, não acreditando em milagres... Que erro...


quarta-feira, 15 de abril de 2009

Definitivamente, sou indeterminável



A cena é a seguinte: um bar enfumaçado (por enquanto, pelo menos em São Paulo) e muito barulho com muita gente falando. Estou com uma amiga e ouço as conversas das pessoas próximas. As conversas são parecidas: ele não larga do meu pé, ela diz que fomos feitos um para o outro, ele diz que era para ser não ficarmos juntos, ela diz que tinha certeza que nos encontraríamos como nos encontramos, outra diz que se é para ser então será etc. Alguém chega para falar. Respondo. A pessoa pergunta meu signo. Respondo. A pessoa diz que é típico de alguém do meu signo ser assim, ser assado. Bocejo... O que quero dizer é que parece que estamos imersos num profundo estado de inanição intelectual, parece que vivemos conformados em uma filosofia do tipo "aconteceu porque era para acontecer". Mas será que é assim mesmo? Você acredita em destino? Eu estar em São Paulo hoje é independente de uma suposta vontade ou poder de decisão que eu tenho ou tive em algum momento da minha vida? Eu esbarrar com alguém na rua amanhã está "escrito" ou é algo totalmente imprevisível? Em suma, o mundo é pré-determinado?

Adoraríamos prever o futuro. O fato de apelarmos para cartomantes, videntes etc é uma demonstração que acreditamos que existe um futuro a ser previsto, uma evidência forte de que acreditamos que existe o amanhã, o porvir. Esta crença é o que nos mantém "equilibrados" na maior parte do tempo, pois acreditamos que embora agora eu não esteja fazendo algo, digamos, prazeroso, sempre tenho o amanhã. Só que o amanhã é uma abstração completa, não existe, para mim pelo menos... O mundo não seria incrivelmente chato se pudéssemos saber sobre o futuro? A certeza não é chata? Eu acho chata, embora reconfortante em alguns momentos. Mas prever o futuro tem lá os seus problemas. Por exemplo, se você sabe quais são os números da Megasena do sorteio de amanhã então o seu vizinho também poderia saber. E o vizinho do vizinho e assim por diante. Logo, todos os jogadores acertariam a Megasena de amanhã e o prêmio de cada um seria praticamente zero. Assim, não poderia existir a Megasena em primeiro lugar, porque ela não faria sentido. O mesmo raciocínio vale para as mais diversas situações da nossa vida. Extrapolando, a própria vida humana organizada em sociedade teria enormes dificuldades de se manter se pudéssemos prever o futuro. Sem falar que a taxa de suicídio tenderia a ser extremamente alta... Mas e em princípio, em tese, existe a possibilidade de o mundo ser pré-determinado, mesmo que não tenhamos acesso ao que já está "escrito"?

Tenho que admitir que a física, a física de Newton em particular, tem a sua parcela de culpa na crença de um futuro previsível. Exemplo: quem fez vestibular algum dia deve ter respondido, ou tentado responder, alguma questão envolvendo o lançamento de uma bola, onde deve-se calcular qual a altura máxima que a bola atinge etc. Ou seja, as equações prevêem o futuro movimento da bola. Assim, generalizando, poderíamos em princípio escrever as equações para todas as partículas, cada átomo do universo, resolver estas equações e descobrir qual o estado de cada uma destas partículas no futuro. Seria um número um pouco além do absurdo de equações, impraticável, mas em tese possível. Neste sentido, o mundo seria determinado, pois todas as nossas ações, atos, pensamentos etc correspondem a um determinado estado, único, do universo. Se sabemos este estado, e sabemos por Newton como ele evolue no tempo, sabemos o passado, o presente e o futuro... Acontece que sempre tem um porém. No caso, eu vou discutir dois: caos e mecânica quântica.

Caos é o oposto de ordem. No nosso caso, se refere a algo que não podemos prever, mesmo que saibamos as equações que governam o sistema. Um exemplo: os sinais elétricos do coração humano podem se tornar caóticos, levando a fibrilação, o que aliás pode explicar o porque da minha vida amorosa ser um caos total!! Mas falando sério, o fato de as equações não fornecerem uma resposta determinada para um evento futuro, mesmo dentro da física de Newton (mas é algo que vai além dela), impõe uma barreira praticamente dentro do impossível para, mesmo em tese, o futuro ser determinado.

Na mecânica quântica a coisa é ainda um pouco pior. Isto porque a mecânica quântica é intrinsicamente uma teoria que diz que eventos futuros têm apenas certas probabilidades de acontecerem. É exatamente por isto que uma pessoa como Einsten nunca aceitou a forma final desta teoria, dada pela interpretação de Copenhague (não vou discutir muito esta interpretação aqui, mas é uma pena que a bela peça teatral Copenhague, em cartaz em São Paulo nos anos de 2002/2003, não esteja mais sendo encenada), uma não aceitação bem representada por sua famosa frase "Deus não joga dados com o mundo". O fato é que joga, já que experiências feitas nos últimos 10-20 anos, que nos anos 30 poderiam ser apenas imaginadas, mais e mais confirmam a interpretação probabilística da mecânica quântica. Nesta interpretação, um fenômeno futuro tem apenas uma probabilidade de acontecer. Se tentamos descobrir qual é o resultado, alteramos este mesmo resultado que queríamos descobrir em primeiro lugar: ao tentar descobrir o que vai acontecer, nós alteramos o que aconteceria (aconteceria mesmo?) caso não tivéssemos tentado descobrir... É como um jogo de gato-e-rato infinito! Assim, o futuro é (de novo) intrinsicamente indeterminado, nem em tese podemos saber o que vai acontecer.

Acho que algumas pessoas podem não gostar disto (alguns colegas meus não concordam) pois esta indeterminação dá margem a questões como livre-arbítrio etc. Não vou discutir isto hoje, pois o post já está longo demais, além de sério demais...

Meu conselho: intetermine-se!