terça-feira, 23 de setembro de 2008

...I want have control, I want a perfect body, I want a perfect soul...



O título do texto de hoje é um pedaço da música Creep, do Radiohead, um grupo que eu adoro e talvez um dos mais criativos do mundo em atividade no momento. A frase acima fala em ter controle, em ter um corpo perfeito etc, mas que na verdade ele é um creep, um ser diferente, que assusta os outros. Eu queria falar sobre isto, sobre controle, pois eu acho que toda vez que alguém consulta uma cartomante, um astrólogo, um numerólogo etc, este alguém está exatamente atrás disso: Controle, no caso sobre acontecimentos futuros.

O que você faria se tivesse controle sobre tudo? Ficaria rico? Teria um tórrido caso de amor com quem você mais deseja? Veja, não é o poder de um gênio que eu estou falando, é o poder de você controlar o desejo das pessoas e a evolução de sistemas, não de criar alguma coisa do nada. Não sei quanto a você, mas a sensação que eu tenho é que eu primeiro manipularia o sistema para ganhar uma bolada no mercado e nunca mais precisar me preocupar com dinheiro. Simultaneamente, porque ninguém é de ferro, eu direcionaria o afeto da pessoa que gosto para ela viver comigo o lindo caso de amor que todos queremos, mas nem sempre temos. Provavelmente depois disto tudo, eu entraria em um tédio profundo e me mataria!!! :) Ok, brincadeiras a parte, eu quero dizer que a graça da vida está exatamente em não termos controle, está no inesperado, está em perder o dinheiro hoje e recuperar amanhã. Está em ouvir da pessoa que você gosta que embora ontem ela achava que não gostava de você, hoje ela gosta. E que amanhã ninguém sabe! Mas quando consultamos uma cartomante, por exemplo, nós queremos exatamente o contrário. Queremos alguém que nos diga que vai dar tudo certo, que a situação financeira vai se resolver. E que logo logo sua vida amorosa será sinônimo de plenitude na terra! E eles dizem isto mesmo, claro que com alertas no meio. E eles dizem isto porque é o que queremos ouvir. Mais, é o que precisamos, necessitamos até, ouvir naquele momento. Você já viu alguém que acabou de fechar um negócio perfeito, está vivendo uma incrível estória de amor e está com saúde perfeita, ir a uma cartomante ou a um astrólogo ou a qualquer uma destas modalidades sedutoras das filosofias New Age? Eu nunca ouvi falar! E provavelmente você também não. Acho que nunca ouvimos falar disto porque quando nos encontramos nestes estados achamos que somos invencíveis, que tudo vai dar sempre certo, que somos praticamente imortais.... Isto mesmo, a morte parece algo longe e abstrato nestes momentos. Neste sentido, ter controle significa evitar a morte...

Não é a toa, assim, que exista um vasto mercado com todo o mambo jambo que você possa pensar. Eu sempre digo para os meus alunos. Se um dia vocês ficarem desempregados, não se preocupem, criem alguma corrente de auto-ajuda que envolva a palavra "Quântico" (da mecânica quântica, ainda vou falar mais sobre isto), a palavra "Big-Bang", a palavra "Cosmologia" etc, que vocês vão logo arranjar vários seguidores que não hesitarão em pagar algo para ouvir seus conselhos. Por exemplo, uma coisa do tipo: "A cosmologia do seu eu interior está intrinsicamente relacionada com as flutuações quânticas de suas emoções, dando saltos descontínuos, te levando de um estado de êxtase a um de frustração, através de pequenos big-bangs no desenvolvimento de sua personalidade". Uau!!! Eu gostei! Eu acho que vou seguir a mim mesma! O fato é que é fácil criar um monte de idéias desencontradas, que não significam muito, mas que quanto mais obscuras forem, mais seguidores encontrarão. A mentira quando propagada, acaba sempre virando verdade para algumas pessoas. E assim caminha a humanidade...

Chega, too much control for a day!

2 comentários:

Unknown disse...

Existencialista isso, não?

Ser responsável por cada ato de nossa autoria não é fácil. E as pessoas procuram além de controle, algo ou alguém em quem ou em quê colocar a culpa por suas decisões.

De fato, viver é passar por tudo o que as possibilidades da vida têm a oferecer, decidir sem saber o futuro - e pronto. Mais que isso, e se vai o pouco de razão que nos é caro.

Abraços,
Raimundo.

Fernanda Steffens disse...

Oi Raimundo

Não sei se é existencialismo ou não. Na verdade eu não gosto muito destas definições que encaixotam as pessoas em certas categorias. Existe um monte de mambo jambo por aí que dividem as pessoas em grupos (de características de personalidade, por exemplo) que eu acho causam mais mal do que ajudam. Porque no momento que a pessoa se coloca em um determinado grupo, ela automaticamente tende a reproduzir o comportamento do grupo que ela se inseriu... Acho que as pessoas têm escolhas sim, e elas devem assumir as responsabilidades por suas escolhas. Uma vidente, um astrólogo, uma caracterização de sua personalidade num dado grupo, aliviam você desta responsabilidade. Neste sentido, todo este mambo jambo é uma infantilização das pessoas... Fui séria demais aqui!!!!! :) Vinho, mais vinho por favor! Fernanda.