sábado, 8 de novembro de 2008

Só porque você pensou em mim ontem...

O mais comum é mentir para nós mesmos. Mentir para os outros é relativamente a exceção.

Nietzsche

Acho que já aconteceu com todo mundo. Você liga para alguém, amigo, amiga, pai, mãe, enrosco, seja lá quem for, e esta pessoa diz que acabou de pensar em você! Você logo pensa: Nossa, estou conectada a esta pessoa, nossas “almas” estão em sintonia/sincronia ou alguma outra “ia” (talvez manIA obsessiva compulsiva...) Ou você sonha com a pessoa, um sonho ruim, e no dia seguinte descobre que a pessoa morreu, sofreu um acidente etc. Ou você está falando com alguém e “descobre” a próxima frase que a pessoa vai falar. Estamos em comunicação mesmo quando não estamos fisicamente próximas a outras pessoas? Somos capazes de “receber”, de alguma maneira desconhecida, o pensamento de alguém? Em suma, existe algo como telepatia?

Vamos pensar assim. Digamos que você tenha um amigo, um daqueles que pensa mais de si do que realmente é, que diz: Ontem saí e peguei todas! Talvez ele até receba um telefonema na sua frente da “presa” da noite passada, mas será que foi assim mesmo? Será que ele é um exímio “pegador”? Muito provável, ele saiu várias vezes durante a semana, abordou umas 15 mulheres e teve um sucesso. É claro que, como ele se acha, ele vai falar para você só do 1 sucesso, não vai falar dos 14 fracassos, e vai passar a impressão de que com ele ninguém pode! Pois bem, em geral é exatamente isto o que fazemos quando dizemos para alguém: Você não acredita, acabei de pensar na pessoa X e ela me ligou! Ou ainda: Tive um pressentimento ruim sobre X e não é que ela tinha sofrido um acidente? O que eu acho? Que em todos estes casos, enganamos a nós mesmos. “Esquecemos” todas as vezes que pensamos em X e X não ligou ou aconteceu absolutamente nada com X. Então porque acontecem situações de sincronia que nos arrepiam?

É uma questão de probabilidade: Se você pensar um número suficiente de vezes em alguém, VAI acontecer de um dia, após um destes pensamentos, você receber alguma notícia deste alguém. Se você anotasse num papel todas as vezes que pensou em X e nada aconteceu e também todas as vezes que pensou em X e recebeu uma notícia desta mesma pessoa, e em seguida dividir um número pelo outro, fatalmente verá que é um número do tipo 0,01 ou menor... Só que nunca fazemos esta conta. Sempre queremos acreditar que temos uma conexão especial com o outro, algo que transcende o mundo físico, algo que nos faz especiais...E talvez a coisa que mais se queira na vida é ser especial, embora nem sempre lembramos que somos especiais para alguém: Somos todos especiais para nossos pais... Agora, se você não for especial para sua mãe ou para o seu pai, bom, eu sinto muito, mas como se dizia no sul, você está num mato sem cachorro! Boa sorte! Aliás, isto me inspira a fazer a seguinte conjectura: Quanto menos especial você se sentir para os seus pais, maiores são as chances de você procurar uma conexão cósmica onde você se sinta especial, maior a probabilidade de você sair procurando toda e qualquer pirotecnia sobrenatural...

Mas vamos supor que mensagens de pensamento são trocadas entre pessoas. Obviamente, estas mensagens podem ser trocadas independente da distância: Muitas vezes a pessoa pode estar do outro lado do mundo. Eu mesma, quando morava na Austrália, muitas vezes pensava bastante em uma pessoa especial na minha vida, que morava no Brasil, e, vejam vocês, quando chegava em casa tinha uma mensagem dela na secretária eletrônica! Só que para mandar uma mensagem por uma distância muito grande, você precisa de energia. Veja os celulares, por exemplo. A cada poucos quilômetros tem uma torre que capta os sinais emitidos por eles e permitem você falar a distâncias enormes. Não existem torres telepáticas por aí, então a comunicação deveria ser direta entre os dois cérebros. Só que a quantidade de energia para mandar uma informação qualquer a milhares de quilômetros de distância fritaria todos os neurônios do seu cérebro! Alguém pode dizer: Bom, você não precisa de energia para a comunicação entre dois cérebros. Ao que eu responderia: Então vamos parar de conversar, pois se você vai apelar para coisas que não são verificáveis, podemos falar qualquer coisa, tudo vale.... Percebem? Como diz Fernando Pessoa em um dos seus poemas maravilhosos, a metafísica é uma conseqüência de se estar mal disposto...

Próximo blog. Vamos falar sobre homeopatia?

3 comentários:

Unknown disse...

Olha professora, pensei em você esses dias e você, conectada a mim mentalmente falando, escreveu uma coisas dessas um dia antes do meu aniversário!

Não é o máximo!?!?!


:)

Anônimo disse...

Podemos incluir nesta lista: mais bebês nascerem na "virada" da lua, ou na primavera... Entre tantas outras superstições malucas. Seria muito bom se as pessoas parassem prá pensar q tudo isso só parece funcionar pois elas prestam mais atenção para os eventos em certos momentos. Em tempo: interessante a idéia do seu blog de discutir essas coisas. Mal posso esperar pelo comentário sobre homeopatia. Ultradiluição é das piores coisas q já ouvi na vida!!!!!! :P

:) Raquel

Fernanda Steffens disse...

Oi Raquel!
Pois é, adoramos viver de ilusão... Em geral selecionamos os eventos que são convenientes para nós num dado momento e descartamos os outros... Pois não é que uma vez na vida eu tive uma idéia boa, a idéia deste blog??? :)
Beijos,
Fernanda.