quarta-feira, 15 de abril de 2009

Definitivamente, sou indeterminável



A cena é a seguinte: um bar enfumaçado (por enquanto, pelo menos em São Paulo) e muito barulho com muita gente falando. Estou com uma amiga e ouço as conversas das pessoas próximas. As conversas são parecidas: ele não larga do meu pé, ela diz que fomos feitos um para o outro, ele diz que era para ser não ficarmos juntos, ela diz que tinha certeza que nos encontraríamos como nos encontramos, outra diz que se é para ser então será etc. Alguém chega para falar. Respondo. A pessoa pergunta meu signo. Respondo. A pessoa diz que é típico de alguém do meu signo ser assim, ser assado. Bocejo... O que quero dizer é que parece que estamos imersos num profundo estado de inanição intelectual, parece que vivemos conformados em uma filosofia do tipo "aconteceu porque era para acontecer". Mas será que é assim mesmo? Você acredita em destino? Eu estar em São Paulo hoje é independente de uma suposta vontade ou poder de decisão que eu tenho ou tive em algum momento da minha vida? Eu esbarrar com alguém na rua amanhã está "escrito" ou é algo totalmente imprevisível? Em suma, o mundo é pré-determinado?

Adoraríamos prever o futuro. O fato de apelarmos para cartomantes, videntes etc é uma demonstração que acreditamos que existe um futuro a ser previsto, uma evidência forte de que acreditamos que existe o amanhã, o porvir. Esta crença é o que nos mantém "equilibrados" na maior parte do tempo, pois acreditamos que embora agora eu não esteja fazendo algo, digamos, prazeroso, sempre tenho o amanhã. Só que o amanhã é uma abstração completa, não existe, para mim pelo menos... O mundo não seria incrivelmente chato se pudéssemos saber sobre o futuro? A certeza não é chata? Eu acho chata, embora reconfortante em alguns momentos. Mas prever o futuro tem lá os seus problemas. Por exemplo, se você sabe quais são os números da Megasena do sorteio de amanhã então o seu vizinho também poderia saber. E o vizinho do vizinho e assim por diante. Logo, todos os jogadores acertariam a Megasena de amanhã e o prêmio de cada um seria praticamente zero. Assim, não poderia existir a Megasena em primeiro lugar, porque ela não faria sentido. O mesmo raciocínio vale para as mais diversas situações da nossa vida. Extrapolando, a própria vida humana organizada em sociedade teria enormes dificuldades de se manter se pudéssemos prever o futuro. Sem falar que a taxa de suicídio tenderia a ser extremamente alta... Mas e em princípio, em tese, existe a possibilidade de o mundo ser pré-determinado, mesmo que não tenhamos acesso ao que já está "escrito"?

Tenho que admitir que a física, a física de Newton em particular, tem a sua parcela de culpa na crença de um futuro previsível. Exemplo: quem fez vestibular algum dia deve ter respondido, ou tentado responder, alguma questão envolvendo o lançamento de uma bola, onde deve-se calcular qual a altura máxima que a bola atinge etc. Ou seja, as equações prevêem o futuro movimento da bola. Assim, generalizando, poderíamos em princípio escrever as equações para todas as partículas, cada átomo do universo, resolver estas equações e descobrir qual o estado de cada uma destas partículas no futuro. Seria um número um pouco além do absurdo de equações, impraticável, mas em tese possível. Neste sentido, o mundo seria determinado, pois todas as nossas ações, atos, pensamentos etc correspondem a um determinado estado, único, do universo. Se sabemos este estado, e sabemos por Newton como ele evolue no tempo, sabemos o passado, o presente e o futuro... Acontece que sempre tem um porém. No caso, eu vou discutir dois: caos e mecânica quântica.

Caos é o oposto de ordem. No nosso caso, se refere a algo que não podemos prever, mesmo que saibamos as equações que governam o sistema. Um exemplo: os sinais elétricos do coração humano podem se tornar caóticos, levando a fibrilação, o que aliás pode explicar o porque da minha vida amorosa ser um caos total!! Mas falando sério, o fato de as equações não fornecerem uma resposta determinada para um evento futuro, mesmo dentro da física de Newton (mas é algo que vai além dela), impõe uma barreira praticamente dentro do impossível para, mesmo em tese, o futuro ser determinado.

Na mecânica quântica a coisa é ainda um pouco pior. Isto porque a mecânica quântica é intrinsicamente uma teoria que diz que eventos futuros têm apenas certas probabilidades de acontecerem. É exatamente por isto que uma pessoa como Einsten nunca aceitou a forma final desta teoria, dada pela interpretação de Copenhague (não vou discutir muito esta interpretação aqui, mas é uma pena que a bela peça teatral Copenhague, em cartaz em São Paulo nos anos de 2002/2003, não esteja mais sendo encenada), uma não aceitação bem representada por sua famosa frase "Deus não joga dados com o mundo". O fato é que joga, já que experiências feitas nos últimos 10-20 anos, que nos anos 30 poderiam ser apenas imaginadas, mais e mais confirmam a interpretação probabilística da mecânica quântica. Nesta interpretação, um fenômeno futuro tem apenas uma probabilidade de acontecer. Se tentamos descobrir qual é o resultado, alteramos este mesmo resultado que queríamos descobrir em primeiro lugar: ao tentar descobrir o que vai acontecer, nós alteramos o que aconteceria (aconteceria mesmo?) caso não tivéssemos tentado descobrir... É como um jogo de gato-e-rato infinito! Assim, o futuro é (de novo) intrinsicamente indeterminado, nem em tese podemos saber o que vai acontecer.

Acho que algumas pessoas podem não gostar disto (alguns colegas meus não concordam) pois esta indeterminação dá margem a questões como livre-arbítrio etc. Não vou discutir isto hoje, pois o post já está longo demais, além de sério demais...

Meu conselho: intetermine-se!

3 comentários:

Unknown disse...

Bastante sério, pouco sarcástico - marca registrada sua, né, professora?! hehehe

Mas por que, então, as ações do "presente" influenciam resultados "futuros"? Se o "futuro" é mesmo indeterminável, como isso é possível?

O inconsciente conceito de tempo ajuda a organizar esses pensamentos, não?

Abraços,
Raimundo

P.S.: descobri, mesmo depois de 3 anos no mack e 1 de cursinho (blehh!!...): não sei estudar!

Fernanda Steffens disse...

Oi Raimundo

O sarcasmo voltará! É que este assunto é muito caro para mim..

As ações do presente de fato afetam o futuro. O problema todo é que uma ação pode resultar em um número infinito de resultados futuros. Num mundo caótico, não existe como saber qual dos possíveis resultados da ação se concretizou de fato. Ademais, segundo a quântica, o resultado da ação vai me dar várias probabilidades de acontecer algo no futuro, apenas isto, nunca a certeza de que acontecerá A ou B. Apenas vai me dizer que uma determinada ação pode resultar em A, com tal probabilidade, ou resultar em B, com tal probabilidade...

Não tenho nem idéia do que você quer dizer com o inconsciente conceito do tempo!!!

Finalmente, estudar é mesmo chato! Aprender é que é o divertido...

Bom feriado!
Fernanda.

Anônimo disse...

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