sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Então é um novo ano




Uns dias antes do Natal eu estava em São Paulo em um bar com duas amigas. As duas são bonitas, inteligentes, culturalmente e socialmente de um nível elevado e estávamos num belo papo até que eu fiquei sabendo que uma amiga delas estava chegando e elas estavam com medo que eu não me "comportasse" na presença desta muher. Por que? Ela era uma astróloga, astróloga de profissão, astróloga das duas! Quem me conhece um pouco sabe que eu tenho um pavio curto quando o assunto é astrologia e afins. Bom, ela chegou, uma mulher simpática, e já nos cinco minutos de conversa ela solta algo como "agora que que a lua está passando por saturno..." (ou algo do tipo). Levei um beliscão por baixo da mesa de uma das minhas amigas quando eu fui abrir a boca, mas ainda assim tive que falar: Tudo isto é lixo, culturalmente relevante, mas lixo! Eu sei, eu deveria me conter, mas esta é uma das poucas situações em que o meu sangue realmente ferve! No fim conversamos bastante, mais ainda quando a astróloga ficou sabendo que eu era física etc. No fim, dados meus argumentos contra a astrologia, a desculpa foi a de sempre: A astrologia é uma linguagem figurada, uma simbologia, toda a conversa da posição dos astros apenas traduz um certo "estado" do universo naquele instante. Mas se é só uma representação simbólica, por que a posição e horário exatos do meu nascimento são informações relevantes? Ainda mais, como mostrei noutro post, que a posição que os astrólogos usam é a errada... Mas esta não é a razão principal do post de hoje. O que eu quero discutir é: Por que pessoas como estas duas amigas precisam acreditar em astrologia, numerologia (a astróloga disse que tinha uma numeróloga ótima para apresentar para elas...) etc? Por que precisamos de bengalas para atravessar a vida?

Eu penso bastante sobre esta questão. Na verdade, escrevo hoje de um bar na beira da praia, num dia de chuva, no segundo dia do ano, e com a praia deserta. É ótimo, poucas cenas para mim são mais lindas do que uma praia deserta com chuva. A praia é a Brava. O bar é o Pirata. O ambiente é composto de várias mesas com casais, grupos de amigos, argentinos, gays, uma mulher que se acha a cópia da Ana Hickmann e um carioca chato que toda a vez que a namorada vai no banheiro vem até a minha mesa pedir meu telefone. O que só confirma que realmente os homens vieram com defeito de fábrica... Mas este ambiente, observando as pessoas, é ótimo para escrever sobre os motivos de acreditarmos em um monte de coisas desbaratadas. Anos atrás, vários anos atrás, um psicanalista amigo meu de Porto Alegre me disse que o maior problema do ser humano é manter a cabeça ocupada. Eu não sei se é o maior, mas com certeza coloco entre os maiores. E por que manter a cabeça ocupada? Eu desconfio que é porque se você não a ocupa com algo do tipo construir grandes coisas, ganhar dinheiro, conquistar pessoas, fazer sucesso, comprar compulsivamente etc, o que sobra é solidão mesmo... E temos um medo terrível da solidão. Solidão é a sala de estar da morte... Acho até que as pessoas que mais buscam poder, por exemplo, são as que mais temem morrer e, por consequência, as mais intimamente sós e as mais crédulas. Eu particularmente acho patético pessoas, depois de uma vida, com medo de morrer. Morrer faz parte... De qualquer maneira, pessoas incrivelmente poderosas tipo Stalin, o primeiro imperador da China, Ronald Reagan, para ficar em uns poucos mais famosos, tinham astrólogos particulares. O primeiro imperador chinês empreendeu uma busca tremenda atrás da imortalidade. Os faraós também. Este medo terrível da morte é, para mim, uma grande ferida no ego das pessoas: Como EU, grande como sou, posso desaparecer? Se eu morro, que sentido tem a vida? Não me pergunte... Mas eu acredito no amor, no amor entre as pessoas, acho que é uma das poucas coisas que realmente dá sentido a vida. Pelo menos é o que me mantém, literalmente, viva... Além da física e de um bom espumante, é claro! De qualquer maneira, eu vejo astrologia, numerologia, quiromancia, leitura de cartas etc, toda esta pirotecnia amalucada, como uma tentativa desesperada de ter algum poder sobre o futuro, algo como galhos na beira de um precipício que tentamos desesperadamente, e inutilmente, agarrar para evitar a queda...

Outra razão para crermos em esquemas superiores que governam nossa personalidade é nos livrarmos da responsabilidade por nossas escolhas. É mais fácil eu justificar minhas ações dizendo que eu sou do signo de áries, ou do signo do rato no horóscopo chinês, ou sou o número 9 no eneagrama, ou que o número 7 governa minhas ações segundo a numerologia, ou qualquer outra coisa, do que eu assumir que fiz o que fiz por uma escolha minha. E que não fui forte o suficiente, ou honesta o suficiente, para viver alguma outra escolha. Ser honesto consigo mesmo é dificil. Jogar a responsabilidade para os outros ou para algo pré-determinado na minha vida é sempre a escolha mais fácil. Na verdade, me parece ser uma falta de coragem e uma tremenda covardia perante a vida jogar nos outros, ou no "destino", ou nos astros, consequências de ações que são nossas e apenas nossas...

Então um 2009 com mais responsabilidade por si mesmo e com mais amor entre as pessoas. De fato esta é minha mensagem para o ano novo: Mais amor. Falo isto sem ironia ou sarcasmo... Feliz ano novo!!!

6 comentários:

Unknown disse...

Hum, correr atrás da imortalidade, arrumar desculpas pra tudo o que fazemos e buscar uma vida determinística: eis o ser humano, quase completo. Pra ficar completo, precisa de uma dose de algo mais "exato e inabalável", como acordar todo dia.

Ainda penso muito sobre como pode o ser humano, assim desse jeito, criar e ou manter pensamentos matemáticos - e como a matemática esfria a vida e a realidade "corrompe" a matemática.

Bom ano, professora!

Raimundo

Fernanda Steffens disse...

Oi Raimundo
Feliz 2009 para ti também!
Bom, eu realmente não sei se a matemática é uma construção humana ou é algo pronto que vamos descobrindo. Sempre que penso sobre este assunto, não consigo chegar a uma conclusão. Veja você, até eu tenho minhas limitações!!!! :)
Fernanda.

Anônimo disse...

Realmente, o que você falou é a pura verdade. Talvez precisamos de uma ocupação mental mais intensa, como estudar, por exemplo. O conhecimento é a única coisa que levamos da vida.
Além de tudo que você falou, se todas essa formas alternativas de uma eventual previsão do futuro fossem corretas, na sua maioria, as pessoas valorizariam mais esta atividade citada no post!
Professora, estou com muita saudades. Sou eternamente grato a tudo que fez por mim e por tudo que me ensinou. Obrigado por tudo e FELIZ ANO NOVO!!!!!

Fernanda Steffens disse...

Oi Manuel!
Obrigada pela mensagem!
Quando quiser conversar, passa na minha sala. A porta está sempre aberta!!
Fernanda.

Anônimo disse...

Ok! Qualquer dia desses eu passo por aí... Quais dias que fica no Mack? Tenho algumas tardes livres agora...
Abraços,

Anônimo disse...

Adoreiii o post!!!

Está aí, concordo 100%, a solução é o AMOR!!!

Beijos Professora! Feliz Ano Novo e até segunda.